quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Olá




Olá o meu nome é Ricardo e eu não acredito no meu potencial, as pessoas ao meu redor me dizem sempre o quanto eu sou bonito e inteligente, mas eu não me vejo assim. Sempre me enxergo parcialmente bonito - porque isso depende muito do dia – não acredito que posso ser tão inteligente assim, pois já cometi tantos erros que hoje não arrisco mais nada. Não é tão fácil viver assim, mas isso mudou...
Um dia como de costume eu acordei atrasado, tomei um banho às pressas e fui correndo com uma roupa qualquer para o trabalho, roupas não são minhas maiores preocupações e isso não precisava ser citado agora, mas enfim... Para mim o dia já começara péssimo, eu havia tido uma noite de sono terrível na qual ocorreram diversos pesadelos, acordei com pensamentos que lutei tempos para esquecer e por ai vai.
Como de costume também eu liguei para a pessoa que mais confio e soltei nela toda a minha ira pelo mundo, toda a minha ridícula revolta com a sociedade e comecei a impregná-la com o meu desgosto patético por mim mesmo e tudo o que a minha amiga fazia era ouvir e ouvir. Chegaram a ter momentos em que eu pensei que a ligação havia caído, confirmava se Débora ainda estava na linha e continuava a metralhá-la com minhas palavras. Algo que eu devia ter citado é que Débora era careca e não tinha uma mama devido ao câncer com o qual ainda lutava todos os dias.
Depois de só eu ouvir, Débora pediu que eu fosse até a sua casa e assim eu fiz quando sai do trabalho. Chegando lá a encontrei sentada com o banjo que eu havia lhe dado e com a minha chegada foi colocado de lado, sentei na frente da minha linda amiga e ela me olhou firmemente nos olhos, segurou minhas mãos e disse: Ricardo hoje recebi mais um exame e nele consta que não tem mais jeito, acabou para mim e minha hora está por chegar e sabe o que eu acho disso?
Respondi que não e ela me falou “Eu acho isso maravilhoso! Eu finalmente descansarei, mas também acho isso terrível, pois meu amigo eu tenho pavor de te deixar sozinho, temo todos os dias pela falta de crédito que dá para sua vida, tremo sempre quando penso que tu não confias em ti e meu amor eu te amo tanto que não aguentaria te ver mais uma vez sofrendo por se achar feio ou algo do tipo”. Eu ouvia as palavras de Débora e chorava desesperadamente, vê-la ali na minha frente anunciando a sua sentença de morte e ouvir que sua maior preocupação era eu, não era fácil e o nó na minha garganta só apertava, o meu desejo era que apertasse e me tirasse a vida. Mas não, isso não poderia acontecer e eu voltei a focar no que o meu anjo me dizia...
Olá o meu nome é Ricardo e eu me sinto totalmente satisfeito comigo mesmo, sei que sou um belo rapaz e tenho um potencial invejável, mas eu só me dei conta disso porque tinha um anjo na minha frente que fazia questão de sempre me mostrar isso, mas a minha revolta e ignorância eram tão grandes que eu me isolei de muitos prazeres por simplesmente não ouvi-la e hoje no meu coração sobra arrependimento por isso e eu pago com lembranças, agradecimentos e vivo todos os dias em função da minha felicidade.
Débora morreu três meses após aquele dia, era uma terça-feira de sol e sobre o seu caixão eu chorei descontroladamente, jamais tive alguém como ela na minha vida e nunca encontrarei alguém assim, ela se eternizou em mim.
Todos os dias eu acordo e assisto a um vídeo em que Débora diz a mim o quanto sou especial e vejo isso todos os dias não porque preciso lembrar-me disso, mas porque preciso nunca esquecer que existem coisas piores para se preocupar.

Prazer Ricardo.

6 comentários:

  1. Essa história foi retirada de todos os Ricardos que aparecem nos espelhos de quem um dia já se olhou no espero e nunca acreditou em si. Ricardo está mais presente na sociedade do que pensamos, Ricardo pode ser eu ou você, pode ser qualquer um.

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  2. Oi... eu também me chamo ''Ricardo.'' E eu sei que eu deveria ter todos os motivos pra viver feliz. Mas atualmente eu sou constituída de dor, muita dor. Dor que afasta todas as pessoas que chegam perto de mim. Pode ser metafórico o que eu vou falar. Mas as vezes, eu mal consigo respirar. Literalmente. As vezes penso que deveria partir dessa pra melhor de uma vez. Eu não aguento mais tanta dor. Eu entro em desespero.
    Mas a vida tá aí... a vida é bela, é linda, ela não é escpecial? Só que eu não consigo enxergar nem mais isso. E por isso... o meu nome sempre ainda é Ricardo. Eu não me importo de continuar assim. Porque eu já até esqueci de mim, tamanha é essa dor. Eu não tenho mais coragem de lutar como antes. Eu não tenho mais tanta energia. O tempo passou. E eu só espero, calada, até o meu último dia. E então... de vez enquando eu sorrio como se tudo ainda estivesse ''sempre bem''.

    Prazer em conhecê-lo Ricardo. Eu também me chamo assim.

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    1. Olá "Ricardo", como eu disse todo nós fomos ou seremos um dia um pouco de Ricardo e é muito corajoso da sua parte expor o Ricardo dentro de você assim.
      Ser Ricardo não quer dizer que você tenha que continuar o sendo, isso é algo que pode ser mudado.
      Obrigada pelo comentário.

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  3. Oi, nao sou ricardo, mas sou henrique, sou eduardo. Dinho, hudson, marcos. Tantos em um só. E o que aprendi, convivendo com eles é que, nao importa nada neste mundo, nem amor, nem, amizades, nem dinheiro. Se eu nao estiver em harmonia com eles, nada estará bem. É, ricardo penou um pouco, mas a gente é jovem e aprende rapido. Bj julhy

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  4. Eu queria uma Débora em minha vida, porque no momento eu estou mais pro primeiro Ricardo :(
    Lindo texto.

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  5. A vida nunca me deixou ser um Ricardo, eu nasci pra ser Débora... Queria tanto que meus Ricardos vissem quão lindos e especiais eles são!

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