quarta-feira, 14 de novembro de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Olá




Olá o meu nome é Ricardo e eu não acredito no meu potencial, as pessoas ao meu redor me dizem sempre o quanto eu sou bonito e inteligente, mas eu não me vejo assim. Sempre me enxergo parcialmente bonito - porque isso depende muito do dia – não acredito que posso ser tão inteligente assim, pois já cometi tantos erros que hoje não arrisco mais nada. Não é tão fácil viver assim, mas isso mudou...
Um dia como de costume eu acordei atrasado, tomei um banho às pressas e fui correndo com uma roupa qualquer para o trabalho, roupas não são minhas maiores preocupações e isso não precisava ser citado agora, mas enfim... Para mim o dia já começara péssimo, eu havia tido uma noite de sono terrível na qual ocorreram diversos pesadelos, acordei com pensamentos que lutei tempos para esquecer e por ai vai.
Como de costume também eu liguei para a pessoa que mais confio e soltei nela toda a minha ira pelo mundo, toda a minha ridícula revolta com a sociedade e comecei a impregná-la com o meu desgosto patético por mim mesmo e tudo o que a minha amiga fazia era ouvir e ouvir. Chegaram a ter momentos em que eu pensei que a ligação havia caído, confirmava se Débora ainda estava na linha e continuava a metralhá-la com minhas palavras. Algo que eu devia ter citado é que Débora era careca e não tinha uma mama devido ao câncer com o qual ainda lutava todos os dias.
Depois de só eu ouvir, Débora pediu que eu fosse até a sua casa e assim eu fiz quando sai do trabalho. Chegando lá a encontrei sentada com o banjo que eu havia lhe dado e com a minha chegada foi colocado de lado, sentei na frente da minha linda amiga e ela me olhou firmemente nos olhos, segurou minhas mãos e disse: Ricardo hoje recebi mais um exame e nele consta que não tem mais jeito, acabou para mim e minha hora está por chegar e sabe o que eu acho disso?
Respondi que não e ela me falou “Eu acho isso maravilhoso! Eu finalmente descansarei, mas também acho isso terrível, pois meu amigo eu tenho pavor de te deixar sozinho, temo todos os dias pela falta de crédito que dá para sua vida, tremo sempre quando penso que tu não confias em ti e meu amor eu te amo tanto que não aguentaria te ver mais uma vez sofrendo por se achar feio ou algo do tipo”. Eu ouvia as palavras de Débora e chorava desesperadamente, vê-la ali na minha frente anunciando a sua sentença de morte e ouvir que sua maior preocupação era eu, não era fácil e o nó na minha garganta só apertava, o meu desejo era que apertasse e me tirasse a vida. Mas não, isso não poderia acontecer e eu voltei a focar no que o meu anjo me dizia...
Olá o meu nome é Ricardo e eu me sinto totalmente satisfeito comigo mesmo, sei que sou um belo rapaz e tenho um potencial invejável, mas eu só me dei conta disso porque tinha um anjo na minha frente que fazia questão de sempre me mostrar isso, mas a minha revolta e ignorância eram tão grandes que eu me isolei de muitos prazeres por simplesmente não ouvi-la e hoje no meu coração sobra arrependimento por isso e eu pago com lembranças, agradecimentos e vivo todos os dias em função da minha felicidade.
Débora morreu três meses após aquele dia, era uma terça-feira de sol e sobre o seu caixão eu chorei descontroladamente, jamais tive alguém como ela na minha vida e nunca encontrarei alguém assim, ela se eternizou em mim.
Todos os dias eu acordo e assisto a um vídeo em que Débora diz a mim o quanto sou especial e vejo isso todos os dias não porque preciso lembrar-me disso, mas porque preciso nunca esquecer que existem coisas piores para se preocupar.

Prazer Ricardo.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

We Die


São memórias que me tomam a mente, borrões de dias e noites, rabiscos de nós, união desunida.
Ainda uso a camiseta manchada de café e ainda tenho aquele short rasgado, me perdoe, não consigo me conter. Olhe os seus olhos, olhe-se no espelho! Como conseguiu mudar tanto?
Suas mãos ainda são trêmulas.
Tudo o que eu quis foi esquecer-te, memórias, malditas.
Sim! São vírgulas que separam memórias e malditas, pois não foi só de felicidade que vivemos, não é.
Memórias.
Caímos em nós atados fortes de um penhasco, amarrados, juntos como um só, caímos no esquecimento.  E eu que quis tanto te esquecer. Tu que tanto quis lembrar.
Perdão! Não há o que perdoar, jamais me permitir errar, mas errei, mudemos o foco.
Memórias, tempo.
Morremos, estamos a morrer... A cada segundo aqueles borrões se desfocam, os rabiscos apagam-se automaticamente com o dia a dia, com as novidades, o passado vai desintegrando-se. Tu te tornas nada. Mas como até nada é alguma coisa, eu lhe vejo eternizando em mim como cicatriz sarada.
Beijos ardentes, memórias, camisetas manchadas, tempo, short rasgado, borrões apagados.
Você se foi e cá estou eu a lembrar de ti mais uma vez. Não. Cá estou eu a lembrar de nós atados novamente, mas são só lembranças.

sábado, 28 de julho de 2012

Esperarei por você



“Olá, esperei por você, mas desisti e voltei a dormir”.
“Oi, cheguei atrasado, fiquei preso com os projetos e quando vi você não estava mais lá”.
“Cadê você? Estou aqui novamente, já fui naquele lugar onde você disse que adorava ir para pensar e ainda não consegui lhe encontrar, cadê você?”.
Parece que estou fugindo de você, mas por favor não pense nisso, estou louco atrás de ti, por favor me espere”.
Ela corria e o esperava por minutos, horas... Quando ele finalmente conseguia chegar num lugar, a menina havia se cansado. Entrelaçados com o desencontro.
Cafeteiras vazias, esboços de cartas, recados nas secretárias. A cidade nem era tão grande, mas estava impossível se encontrarem sozinhos, saudade.
Oi, hoje eu faltei trabalho e cheguei bem mais cedo, ficarei até o anoitecer, por favor apareça”.
“Mil desculpas, foi impossível aparecer e meu telefone descarregou, vou te esperar amanhã”.
No outro dia...
Ela já não suportava esperar por ele, levantou e deu as costas para a vista maravilhosa que tinha aquele lugar, quando finalmente estava indo embora com os olhos marejados uma voz ao fundo diz: Quem foi que ia me esperar?
Ao virar-se com um sorriso no rosto ela finalmente o encontra e é como se estivesse ali todos os dias, cabelos levemente bagunçados pelo vento, olhar cansado de quem passou o dia trabalhando e a respiração ofegante da corrida que deu para chegar. Era ele, finalmente.
Juntos decidiram por se desentrelaçar dos desencontros.
Feitos de laços e unidos por nós.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Até mais ver


E vai chegar mais uma vez aquele momento revivido de seis em seis meses, ou menos! Mas que me parece ser sempre de dez em dez anos, tu partirás novamente rumo ao teu futuro e eu ficarei aqui a cuidar do meu, voltaremos àquela comunicação de telefonemas, e-mails e tudo utilizando os mais precários meios. Teremos de novo aquelas interrupções de mães chamando, telefones falhando e conexões caindo. E suportaremos.
Quando tu chegas é uma festa para mim, no tempo que fica aqui nós brigamos, damos risadas e fazemos a pazes por inúmeras vezes, sendo que para falar a verdade brigo sozinha, pois tu te calas e apenas observa a minha ira inútil de quem só terá o trabalho de ficar calma depois. Na partida nosso “até logo” sempre é breve, para poupar todo o sentimentalismo que eu coloco nesses acontecimentos e prevenir que o mesmo nasça em ti.
Todos sabem que estamos até acostumados com isso, ou que deveríamos estar, tu podes está, mas eu não. Eu aguento mais um ano, suporto até dois ou três, mas não sou forte o suficiente para os dias, são dias demais para a minha cabeça, e mesmo que eu coma a minha saudade não passa.

sábado, 7 de julho de 2012

Orange


Sol alto no céu e meio coberto por uma nuvem de formato irregular, havia um campo enorme de grama amarelada e bem no meio uma árvore provavelmente centenária que era dona de folhas gigantes de tons alaranjados.
Deitados na sombra da árvore um casal escutava uma música num rádio antigo, um chiado encantador aparecia toda vez que a brisa se tornava vento, o casal de entreolhava. Trocavam carícias, uma mão na nuca, a outra no cabelo, beijos os olhos, lábios... Era fácil querer parar para observar. Do outro lado do campo existia um pequeno lago e por esse passavam algumas crianças com pedalinhos e canoas artesanais colocadas ali delicadamente encostadas na pequena ponte.
Atenção! Os pássaros estão voando acima da árvore! O casal não se move, pois tudo o que escutam é o chiar do rádio e os sussurros de amor que dizem um ao outro no ouvido e por um momento se calam e ela retorna a falar dizendo “só o que eu queria é que o tempo parasse agora”, interrompida por seu par com um shhhi ela escuta “eu jamais gostaria de parar o tempo aqui, ainda temos muito o que viver”.
Ela tinha medo de que com o passar do tempo o amor acabasse e se tornasse somente uma lembrança, já ele tinha medo de viver pouco, ele sabia que o amor é grande, era verdadeiro e que não tão logo se desgastaria por isso o rapaz tinha sede de viver aquele sentimento.
Algumas folhas caiam e uma delas engatou no cabelo da garota, ele retira e com um beijo na cabeça dela os dois adormeceram ali no meio do campo deitados nas folhas de coloração laranja.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Delírios Febris

E eu me encontrei em ti, sim, foi nesse olhar preguiçoso de quem mal abre os olhos e nesse sorriso tímido de quem se envergonha por pouca coisa, sempre pensei que fosse ser mais fácil. Foi por uma foto em preto e branco que eu me apaixonei.
Existia um caos, corpo febril, olhos ardendo. Encontrei-te ali.
Em perfeita inércia sentimental, assim eu me encontrava e foi como uma explosão, tudo foi aflorando naturalmente – ou não – mas cá estamos nós nesse meio termo do que é ou do que pode ser isso que nunca foi e que nunca saiu de um se. Logo o “se” que tanto atormenta as almas, tortura as mentes fantasiosas e faz vidas felizes serem criadas nas linhas de um amor incompleto.
Por favor, pegue a agulha e retire esse sangue agora! Mais tarde não será o mesmo.
Sinto-me renovando cada célula do corpo a cada segundo quando estou na sua presença, é nesse perfume que me perco cada vez mais, é nessa voz e nessa gargalhada maravilhosa que eu tenho meus mais lindos sonhos.
Uma mão passa pelo cabelo. Desce pela nuca.
Um corpo febril, uma garganta fechada e uma tosse insuportável. Acabaram-se os delírios.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Please One More Time


Era uma camisa rasgada, amarrotada e suja de café, unhas pretas de tinta e nas têmporas havia manchas azuis de caneta. Tinha uma pele branca que possibilitava a visão das veias, os olhos fundos pelo fato de não dormir a dias. Sonhos, sonhos, sonhos. Dormia mais durante os intervalos das refeições do que de noite. Ao lado da cama – o lugar mais habitado – tinha um criado mudo com uma caneca pelo meio de café frio, giz de cera colorido, canetas e um papel sujo com alguma coisa desconhecida, o que provavelmente poderia ser café também.
Alguém chama ao longe, mas é muito difícil descobrir o que se passa e quem fala com o som dos fones tão altos e não importa quem seja, não importa o estão falando é simples assim, não importa. Infelizmente é hora de acordar e fingir que está ouvindo, vendo e fingir que fala e que acordou, é mais um dia de fingir, atuar uma caminhada até a sala, protagonizar passo a passo para não trocar os pés. Finalmente trabalho executado com sucesso. Felizmente chegou a hora de voltar e ela a esperava ali, parada do jeito como foi deixada, deitasse na cama novamente.
E tem sido assim por dias e dias, é nessa vida de escrever trechos aqui, dormir trechos ali, comer algo e beber cafés frios e quando se tem sorte os quentes, é com dedos sujos de caneta, é com olhos fundos de insônia e têmporas a transpirar que se vive.


sábado, 2 de junho de 2012

Das 16:30 às ∞


Vem para cá vem e me dá um cheiro e me dá um beijo que é tudo o que eu preciso, vem aqui e me puxa pra dançar, desliza comigo ao som de um bolero ou foxtrote, deitarei a cabeça no seu ombro e sentirei o seu perfume.
Você derramara vinho tinto no meu vestido branco e a noite estava tão bela que todos caímos a sorrir, e a trupe se uniu e saíram todos a dançar pela rua de paralelepípedo, os violeiros acompanhavam aqueles que pelo vento transmitiam sua felicidade.  Os moradores do vilarejo começaram a sair dos seus humildes barracos, construídos de madeira e palha, colocaram os pés na rua e acompanharam a dança regada a muita gargalhada.
Dois para um lado, dois para o outro, mudou o ritmo. Voltaram ao centro da festa, desliza-se mais um pouco pra cá e pra lá. Acabou o vinho, acabou a festa.
Uma fresta de luz invade o quarto e chega aos olhos dela, ele a cobre com seus longos braços, cabelos desgrenhados.  Duas vozes roucas a ronronarem palavras de amor.
Um dia amanhecendo, uma xícara de café, dois corpos deitados na grama molhada pela garoa, dois “eu te amo” saindo de duas bocas.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Sorria, estão lhe filmando.


Bateria forte, instrumento de sopro. Era uma ótima trilha sonora.
O sol forte refletia na tela do telefone, olhos se fechavam com a luz e sorrisos se abriam com meras lembranças de dez minutos atrás. E de repente todos começam a correr e sorrir, e sem explicação ela começou a acompanhar a corrida, tinha curiosidade de saber aonde iria dar. As risadas inexplicáveis ainda não faziam sentido e já haviam corrido demais.
Todos param.
Caídos na grama e ofegantes os três amigos fecham os olhos, ainda sorridentes e as pernas começam com os espasmos e de repente os chafarizes são ligados, a água os refresca e mais uma vez eles se levantam e começam a correr e rir pelo gramado, e escorregando vão ao encontro um do outro e se abraçam. Ela fica sentada, se molhando, observando.
Era tudo muito bonito, era tudo muito inacreditável, era mágico até demais para ser verdade.
Pessoas se aproximavam e começavam a fotografar, rir, filmar, apontar e fazer igual, pessoas copiavam.
E de uma hora para outra todos param, todos sentam, os chafarizes são desligados e a música para, todos fecham a cara, se enxugam e vão para um canto. A câmera continua a filmar somente o enorme gamado vazio e a tela fica escura, o letreiro sobe.